“As minhas mãos suavam frio e tremiam, minha voz estava um pouco
embargada pela emoção de finalmente estar ali me oferecendo para o serviço que
tanto desejara.
Ele me
ouviu com atenção e me respondeu pausadamente:
- Veja
bem, minha jovem, infelizmente não poderemos enviar você por algumas razões: já
somos responsáveis por alguns missionários e não podemos, no momento, assumir a
responsabilidade com mais um. E além do mais, você é ainda solteira ainda e
muito jovem. Nós também não costumamos enviar mulheres sozinhas ao campo. Eu
sinto muito. Espere um pouco mais, case com alguém que também tenha um chamado
como o seu e então, quem sabe, em um futuro próximo, possamos lhe enviar.
Eu não
posso explicar com palavras a dor que senti naquele instante.
Eu não
cabia no orçamento, era mulher, era solteira e era jovem. E isso me
desqualificava para fazer a obra que eu há tantos anos me preparava pra fazer.
E essa história de precisar de um marido, por quê?
Fiquei
alguns segundos ali, parada, calada, sem saber o que dizer ou o que fazer. Tudo
estava muito confuso pra mim naquele instante. E agora? Devia desistir de tudo?
Devia insistir com ele? Ou, deveria confiar em Deus, somente Nele, partir só e
sem cobertura?
Eu
estava em um daqueles momentos cruciais que todos nós enfrentamos, onde temos
que escolher entre o fácil e o difícil, entre retroceder diante da dificuldade
ou avançar em direção ao desconhecido. No meu caso, entre partir obedecendo a
um mandado do próprio Deus ou ficar porque não me enquadrava no perfil do
homem.
Levantei-me,
agradeci por ter me recebido, desculpei-me por ter tomado o seu tempo e me
levantei para sair. Antes, porém, de abrir a porta, disse-lhe:
- Pastor, eu lamento não me enquadrar no seu
perfil, mas acredito piamente que me enquadro no perfil do meu Senhor Jesus,
porque do contrário Ele não teria me chamado. Aquele povo que eu ainda
desconheço me aguarda e eu irei.
- Muito
bem, vá, que Deus te abençoe e faça uma boa viagem.
Saí de
lá muito triste. Não entendia porque tudo aquilo estava acontecendo, pensei que
eu iria me apresentar como candidata ao campo missionário e seria alegremente
recebida, apresentada à Igreja e enviada ao campo.
Lá fora encontrei um irmão que já sabia do que
seria tratado na reunião, e ele ao ver-me com os olhos úmidos, tratou logo de
me consolar:
- Não
fique assim Kelem. Logo, logo você casa com alguém que tenha chamada
missionária, e vocês junto partirão para o campo.
- Não,
meu irmão. Eu não vou procurar homem algum, chamado ou não, sabe por quê?
Porque eu já recebi o chamado de Deus. E Ele me chamou mesmo sabendo que eu sou
mulher e sou solteira. Eu não tenho culpa se o critério do homem é diferente do
critério de Deus. E eu não sei de que maneira, mas eu irei ao campo
missionário. Em nome de Jesus.
Se eu desistisse por falta de apoio é porque nunca teria
sido digna do chamado que recebi.
Hoje eu
compreendo o meu pastor e entendo que ele foi usado por Deus para me ensinar
como Ele queria que fosse o meu ministério: baseado unicamente na confiança na
capacidade provedora de Deus. O meu chamado deveria ser provado para que a
minha fé fosse fortalecida.”
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